domingo, 8 de julho de 2012
sábado, 7 de julho de 2012
“A Amazônia continua sendo um apelo à Igreja”, diz cardeal
Por Ormano Sousa e Ércio Santos
Cerca de 1.200 pessoas lotaram na
noite da última sexta-feira, 6, a igreja do Santíssimo Sacramento, em Santarém
(PA), no encerramento do 10º Encontro dos Bispos da Amazônia, que celebrou os
40 anos do Documento de Santarém. Os bispos reafirmaram na celebração a tônica
do documento que ratifica o compromisso da Igreja com os povos da Amazônia e a
defesa da ecologia.
“A Amazônia continua sendo um
apelo à Igreja, um lugar permanente de missão”, sentenciou Dom Cláudio Hummes,
cardeal presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia que presidiu a
celebração. Segundo ele, a região, por suas características próprias, requer
uma atitude profética da Igreja, sobretudo considerando que estas terras sempre
foram vistas como uma fonte de riquezas exploradas continuamente.
O profetismo, disse o cardeal, exige
atitudes que estão relacionadas à promoção humana. “A promoção humana faz parte
da evangelização e para que isso aconteça é necessário combater toda forma de
opressão sobre o povo”. No final, Dom Cláudio declarou que o encontro lhe
fortaleceu o ardor missionário e reconheceu vigor da Igreja nesta região.
O evento contou com a
participação do secretário geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner, de 35 bispos e dezenas de religiosos e lideranças, dentre estes
alguns que estão sob constante vigilância de segurança em virtude da postura em
defesa dos povos – denúncias contra a exploração sexual de crianças,
adolescentes e mulheres, tráfico de drogas e de pessoas, trabalho escravo – e por
denunciarem a exploração ilegal dos recursos da Amazônia.
Momento histórico
A celebração teve um tom festivo,
com elementos simbólicos evidenciando as características da região, pelo desfecho
do evento histórico. Momento de tal envergadura aconteceu em 1972, quando os
bispos lançaram a Carta de Santarém em que definiram o pensamento unânime quanto
à ação da Igreja na Amazônia.
Naquela ocasião a região era
vista como uma “terra abandonada”. Com essa visão, o governo federal implantou
um programa de colonização com o lema “homens sem terra para terra sem homens”.
Grandes estradas foram abertas, dentre estas a Transamazônica, e no entorno
destas grandes rodovias foram criadas agrovilas que, posteriormente, com o
avanço populacional, se tornaram cidades.
O documento firmado pelos bispos
40 anos atrás, via profeticamente o que viria a acontecer no futuro próximo. A
visão da igreja da época veio a se consolidar com a exploração da Amazônia e de
seus povos.
Agora, o documento de 2012,
reconhece que, embora se registrem avanços no campo social e político, as
explorações também acompanham essa proporção.
O documento final – no formato de
carta ao povo – foi lido na celebração pelo arcebispo de Manaus, Dom Luís
Soares Vieira, destacando o compromisso missionário, profético e com os povos
da região. O documento oficial será publicado posteriormente.
Abaixo, a carta dos bispos ao
Povo de Deus, na íntegra.
Irmãs e
irmãos caríssimos em Cristo Jesus,
Povo de
Deus na Amazônia,
“Não tenha medo, cotinue a falar e não se cale,
pois eu estou contigo“ (At 18,9)
“Cristo
aponta para a Amazônia“ lembrava o Papa Paulo VI aos bispos da Amazônia por
ocasião de seu encontro em Santarém, de 24 a 30 de maio de 1972, marco
indelével na história da Igreja desta grande região brasileira, habitada por
povos de culturas e tradições tão diferenciadas do outro Brasil.
Expressamos
nossa gratidão ao Deus da vida porque nestes 40 anos, não obstante nossas
fragilidades, nossa Igreja tem anunciado Jesus Cristo ressuscitado, caminho,
verdade e vida e tem marcado presença junto ao povo sofrido, sendo muitas vezes
a voz dos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, seringueiros e migrantes,
nas periferias e em novos ambientes do centros urbanos animando as comunidades
na reivindicação do respeito pela sua história e religiosidade. É também a vida
destes povos, seu modo de viver, sua simplicidade, seu protagonismo, sua fé que
nos encantam! Não faltou o testemunho de entrega da própria vida até o
derramamento de sangue. Este testemunho nos anima, nos encoraja e nos fortalece.
São também protagonistas religiosos e religiosas, pastorais, movimentos e
serviços que tem sido uma força viva e atuante na realidade das nossas
comunidades.
Constatamos avanços no campo social
e político, com novos organismos de participação, conselhos de políticas
públicas, participação nas campanhas por leis mais justas, aumento da
consciência e engajamento na questão ecológica. No campo econômico, cresce o
consumo e o poder aquisitvo embora nem sempre acompanhado do aumento da
qualidade de vida. A vida na Amazônia continua sofrida.
Há
séculos os povos da Amazônia gemem e choram sob o peso de um modelo de desenvolvimento
que os oprime e exclui do “banquete da vida, para o qual todos os homens e mulheres são
igualmente convidados por Deus“ (SRS 39). A Igreja
ouve os gritos, às vezes desesperados, e se identifica com o seu clamor,
conhece o seu sofrimento. Mais ainda, a Igreja declara que “as alegrias e
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças,
as tristezas e angustias dos discípulos de Cristo“ (cf. GS 1).
As
decisões sobre o desenvolvimento da Amazônia sempre são tomadas a partir de
fora e visam unica e exclusivamente a exploração das riquezas naturais sem
levar em conta as legítimas aspirações dos povos desta região a uma verdadeira
justiça social. Quando
Paulo VI declarava que “o desenvolvimento é o novo nome da paz“ (PP 87), não
pensava num “crescimentismo“ meramente econômico, unilateral e excludente, mas
convidava a todos os povos da terra a empenhar-se por um mundo justo, fraterno
e solidário, na perspectiva do Reino que Jesus veio a anunciar “para que todos
tenham vida“ (Jo 10,10).
Como
quarenta anos atrás, a Amazônia continua sendo considerada a “colônia“, mesmo
que abranja mais da metade do território nacional. Para a metrópole – Brasília,
o sudeste e o sul do País – Amazônia é apenas “província“, primeiro província
madeireira e mineradora, depois a última fronteira agrícola no intuito de
expandir o agronegócio até os confins deste delicado e complexo ecossistema,
único em todo o planeta. De uns anos para cá a “província“ recebeu mais um
rótulo, sem dúvida o mais desastroso, pois implicará a sua destruição
programada, haja visto o número de hidrelétricas projetadas para os próximos
anos: a Amazônia é declarada a província “energética“ do País. Sob a alegação
de gerar energia limpa se esconde a verdade de que mais florestas sucumbirão,
mais áreas, inclusive urbanas, serão inundadas, milhares de famílias serão
expulsas de suas terras ancestrais, mais aldeias indígenas diretamente
afetadas, mais lagos artificiais, podres e mortos, produzirão gases letais e se
tornarão viveiro
propício para todo tipo de pragas e geradores de doenças endêmicas.
A
história da Amazônia revela que foi sempre uma minoria que lucrava às custas da
pobreza da maioria e da depredação inescrupulosa das riquezas naturais da
região, dádiva divina para os povos que aqui vivem há milênios e os migrantes
que chegaram ao longo dos séculos passados.
Santarém 1972: Encarnação na Realidade e
Evangelização Libertadora
Como
já em 1972, os bispos reunidos em Santarém de 2 a 6 de julho de 2012 não
detectam apenas os mecanismos perniciosos responsáveis pela miséria dos povos e
a devastação das florestas, mas os denunciam como responsáveis de gerar “ricos
cada vez mais ricos às custas e pobres cada vez mais pobres“ (João Paulo II,
Discurso inaugural de Puebla, 28 de janeiro de 1979) e de um meio-ambiente cada
vez mais deteriorado. O “lar“ (em grego “oikos“ – daí a palavra “ecologia“) que Deus criou
para todos nós não pode ser explorado até a exaustão, mas exige cuidado, zelo,
amor, também em vista das futuras gerações. Os
cientistas alertam sempre mais que a devastação da Amazônia terá consequências
irreversíveis para o clima do planeta e se torna assim uma ameaça à vida e
sobrevivência de toda a humanidade.
Em 1972
os bispos da Amazônia já identificaram graves feridas neste mundo de selvas e
águas que atingiram violentamente os povos originários e tradicionais da
região. Como
40 anos atrás, também hoje os bispos se entendem como mensageiros dos povos da
Amazônia, profetas que vivem numa grande proximidade com Deus e ao mesmo tempo
sintonizados com os acontecimentos históricos, homens de fé que „vêm da grande
tribulação“ (Ap 7,14). Nestes nossos tempos,
as feridas se tornaram chagas abertas que perpassam e sangram a Amazônia de
fora a fora, causando cada dia mais vítimas fatais.
As prioridades da ação pastoral e evangelizadora
apontadas em 1972 continuam atualíssimas. Até hoje uma formação adequada à essa
região para ministros ordenados, mas também para leigas e leigos que dirigem as
comunidades, é fundamental. Importa encarnar a Igreja no chão concreto da
Amazônia. Quem exerce um ministério, ordenado ou não, participa do pastoreio de
Jesus e está a serviço de seus irmãos e irmãs e quer exercê-lo na simplicidade
do lava-pés e numa proximidade fraterna ao Povo de Deus.
As Comunidades Cristãs ou Eclesiais de Base tão
recomendadas no Documento Santarém 1972 são expressão de uma Igreja viva e
comprometida. Como os bispos já afirmaram em Manaus (2007), elas constituem um
dom especial que Deus concedeu à Igreja na Amazônia. São obra do Espírito
Santo. O que o Documento de Aparecida afirma, aplica-se de modo especial à
Amazônia. As CEBs, diz o documento, “têm
sido escolas que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé,
discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até
derramar o sangue, de muitos de seus membros” (DAp 178). As CEB’s são também
uma resposta válida e empolgante para o mundo urbano como resposta ao
individualismo e a superficialidade do consumismo. Nas CEBs se vive a dimensão
samaritana da compaixão ativa e interajuda, de um coração e mãos abertas para
quem sofre ou passa necessidade, mas também a dimensão profética de anunciar
continuamente a utopia do Reino e, ao mesmo tempo, denunciar todos os
mecanismos e estruturas que impedem a chegada do Reino. É exatamente esta
dimensão profética que gerou as e os mártires da Amazônia. As CEBs
constituem-se em família das famílias onde todos se conhecem e querem bem, mas
são também centros de oração e meditação da Palavra de Deus para nutrir a
mística profunda da vivência na proximidade de Deus. Ele mesmo se revelou como
um Deus-conosco e assegurou aos profetas, apóstolos, discípulas e discípulos:
“Eu estarei contigo“ (cf. Ex 3,14; Js 1,9; Jr 1,19; At 18,9-10). Afinal “se
Deus está conosco, quem será contra nós“ (Rom 8,31).
Santarém 1972 assume a questão
indígena como causa de toda a Igreja na Amazônia. Lembra que no mesmo ano por
iniciativa dos bispos, mormente dos da Amazônia, foi fundado o Conselho
Indigenista Missionário – Cimi.
Os
bispos talvez não imaginavam quarenta anos atrás o imenso apoio que sua decisão
significava aos direitos e à sobrevivência de dezenas de povos indígenas na
região amazônica que, sem o empenho intransigente da Igreja, teriam
desaparecido. A presença solidária e o apoio incondicional à luta por seus
direitos foi fundamental para que hoje a maioria dos povos indígenas da região
tenha suas terras demarcadas. Foi também de enorme importância gerar uma
consciência de respeito e valorização dos povos, suas culturas e seus projetos
de “Bem Viver“. Dezenas de povos saíram do silêncio em que foram forçados a se
ocultar para sobreviver. Ressurgiram das cinzas e estão lutando pelos seus direitos
e suas terras. Alem disso a atuação corajosa dos missionários, selando seu
compromisso através do sangue derramado pela vida desses povos, propiciou o
surgimento de articulações e organizações dos povos indígenas, essenciais para
a conquista de seus direitos e sua autonomia.
Os
riscos de extermínio de vários grupos indígenas em estado de isolamento
voluntário, exige um renovado compromisso com a sobrevivência de milhares de
vidas e povos ameaçados de extinção.
Na perseverança salvareis vossas vidas (Lc 21,19)
Deparamo-nos hoje com uma verdadeira enxurrada de
grandes projetos que os Governos querem implantar, seguindo a estratégia do
“fato consumado“. Não há discussão, nem consulta popular que merecesse este
nome. Decide-se e executa-se. Oponentes são criminalizados ou taxados de
inimigos do progresso. Também os ribeirinhos, seringueiros, quilombolas, e
outros povos tradicionais sofrem pela falta de recohnecdimento de suas terras.
A ética na política prometida à nação e esperada
pelo povo brasileiro cedeu lugar a uma sequencia ininterrupta de escândalos de
corrupção em todos os níveis governamentais.
Somado a estes desafios nos
deparamos com a emergência do fenômeno urbano, com o inchaço nas periferias das
grandes cidade, exploração sexual, tráfico de pessoas e de drogas, violência.
Em vez de investimentos em políticas públicas de saneamento básico, saúde,
educação e segurança, o Estado prioriza políticas compensatórias, apoia e
incentiva o grande capital, investe na construção de estádios monumentais e
outras obras faraônicas.
“Podem roubar-nos tudo, menos a esperança” (D.
Pedro Casaldáliga). No caminho de “Santarém”, novamente nos lançamos nas
estradas e rios, nas aldeias e quilombos, nos interiores e periferias das
cidades, nos grandes centros urbanos desta imensa Amazônia, abraçando a Missão
que nos foi confiada, comprometidos com toda a criação e na busca de sermos
autênticas comunidades de fé alimentadas pela Palavra e pela Eucaristia. Nesta
hora da história o nosso coração às vezes, se angustia por causa de tantas
dificuldades que nos desafiam, aparentemente insuperáveis; no entanto,
continuamos a ser chamados e enviados como missionários e profetas para
alimentar a esperança, como âncora firme e segura (cf Hb 6,19), de um mundo
novo, inaugurado por Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado..
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Bispos da Amazônia reafirmam compromisso e opção pelos pobres
Compromisso e opção pelos pobres.
Esse é um dos principais resultados do 10º Encontro da Amazônia em Santarém,
anunciado previamente durante entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira,
no seminário São Pio X.
Participaram da coletiva, Dom
Cláudio Hummes, da Comissão Episcopal para a Amazônia, Dom Leonardo Steiner,
secretario geral da CNBB, Dom Esmeraldo de Farias, arcebispo de Rondônia e Pe.
Luiz Pinto, administrador da Diocese de Santarém.
Além da opção pelos pobres, os
bispos destacaram que durante o encontro, foi reafirmado o compromisso de
realizar um trabalho evangelizador, missionário, samaritano de todos os
batizados.
Destacaram ainda a preocupação com
a formação de padres, religiosos (as) leigos(as) para que aprofundem ainda mais
a sua experiência de vivencia cristã.
Outro destaque é a dimensão
missionária. Segundo Dom Esmeraldo de Farias, as comunidades precisam ficar não só agir
naquilo que é necessário para a própria comunidade, mas abrindo–se ao trabalho,
seja no campo eclesial, de ajudar na evangelização da catequese, mas também no
campo social.
Além disso, os participantes do
encontro reafirmaram o desejo de realizar uma nova evangelização, que vá ao
encontro do povo, sobretudo daqueles que foram batizados.
Também pretendem continuar buscando
o diálogo com os governantes, pois sentem a ausência do Estado. Eles reforçam a
necessidade de uma presença mais efetiva, sobretudo na promoção da vida,
combatendo à violência, o tráfico e uso de drogas, e o trabalho escravo.
Outro destaque foi a necessidade de
fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base. Dom Cláudio lembrou que as
CEBs foram, durante décadas, a grande força de resistência contra toda forma de
opressão. Hoje elas mudaram e se inculturaram nesse novo momento do Brasil, e enfatizou:
“se queremos de fato trazer as pessoas a Jesus Cristo, temos que ajudá-las a vivenciar
sua fé numa comunidade, pois ninguém faz o caminho sozinho para Deus”.
O documento final do encontro será
apresentado na celebração de encerramento do Encontro, às 19h30, na Igreja do Santíssimo
Sacramento.
Joelma Viana e Ercio Santos
Assessora da CRB destaca importância do Encontro dos Bispos da Amazônia
Cheia de esperança para com a caminhada da Igreja, Irmã
Maria Mendes, religiosa natural do Estado de Rondônia, representa a CRB
nacional no 10º Encontro dos Bispos da Amazônia, em Santarém/PA. Para ela,
celebrar 40 anos do Documento de Santarém é atualizá-lo frente aos desafios que
a região e o mundo enfrentam no contexto atual.
Irmã Maria Mendes entende que a presença da CRB no
Encontro é importante porque, há mais de 100 anos, religiosos e religiosas de
diferentes congregações marcam presença na história da Igreja na Amazônia. Em
Santarém, a mais antiga prelazia do Brasil que foi fundada, enquanto vila, com
a presença dos jesuítas, e depois assumida por missionários franciscanos alemães
e depois norte-americanos, destaca-se dentre tantos, Dom Tiago Ryan, anfitrião
do IV Encontro dos Bispos da Amazônia em 1972 que originou o Documento de
Santarém. Em novembro de 2012 ele completaria 100 anos de presença entre o
povo.
Por outro lado, Irmã Maria destaca a presença da vida
religiosa feminina entre os amazônidas.
Elas estão presentes em muitos lugares de difícil acesso onde ninguém
quer assumir enquanto terra de missão. Elas dão a vida entre indígenas e
quilombolas empobrecidos e vítimas da exclusão social por décadas na região
amazônica.
A religiosa ressalta que a CRB sempre tem caminhado em
sintonia e parceria com a CNBB, ouvindo
o que os bispos tem a dizer sob o impulso do Espírito de Cristo para assumir os
desafios desta imensa região cheia de desafios a serem superados com fé,
esperança e caridade.
De 1972 a 2012 muitas coisas mudaram e a degradação da
Amazônia aumentou. A Igreja também mudou, mas precisa manter firme a intuição
dos bispos que escreveram o histórico Documento de Santarém. A irmã acredita
que “em seu projeto intercongregacional, a CRB se faz presente aqui para ouvir,
para escutar, quais são os desafios e as esperanças do povo, para que juntos
aos pastores do povo de Deus se possa fazer e trilhar o caminho eclesial”, um
caminho que mantenha clara a evangélica opção preferencial pelo empobrecidos e
marginalizados, assumindo as diferentes expressões de Igreja para formar a
comunhão, mas partindo sempre das pequenas comunidades comprometidas com o
modelo bíblico dos Atos dos Apóstolos, modelo este expressado de maneira
especial pelas Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs, protagonistas da
evangelização na Amazônia permanentes terra de missão, quando todos e todas
assumem o compromisso de Jesus: a construção do Reino de Deus entre nós.
Everaldo Cordeiro e Ercio Santos
Cultura santarena é apresentada aos participantes do 10º encontro
“Nunca vi praias tão belas, prateadas como aquelas, do torrão onde eu
nasci. Da caieira do laguinho, Mapiri é um carinho, onde cada Juruti. Nunca vi
praia tão boa, como aquela da coroa, bem pertinho do Salé. De São Marcos tão branquinha,
da candura da Prainha, Vera Paz, Maria José.” Trecho da música “Canção da
minha saudade”
Decantando as belas naturais de
Santarém (PA), o cantor e cardiologista, João Otaviano, abriu o momento
cultural do 10º Encontro da Igreja na Amazônia.
A música “canção da minha saudade” foi a primeira ouvida pelo anfitrião
do encontro dos bispos em 1972, Dom Tiago Ryan, ao chegar a Santarém, em 1943. Em
novembro próximo ele faria 100 anos, se estivesse vivo.
Os participantes do encontro
tiveram a oportunidade de ouvir canções da cidade e apreciar a apresentação dos
jovens do grupo “Bailado de Carimbó”, da Paroquia de Nossa Senhora do Rosário,
no bairro do Santarenzinho. O grupo trabalha com jovens em situação de risco e
é acompanhado pela Congregação do Verbo Divino.
Para fechar a noite, a cantora
santarena, Cristina Caetano, no ritmo do carimbó, apresentou através da música “Esse
rio é minha rua”, uma das realidades
amazônicas: o uso do rio como meio de ida e vinda entre as cidades.
No final houve sorteios e os bispos
receberam um exemplar do livro “O Missionário do Tapajós”, comemorativo ao
centenário de nascimento de Dom Tiago Ryan.
Joelma viana e Ercio Santos
Secretário geral da CNBB lembra que a Igreja precisa de homens e mulheres evangelizadores
Dom Leonardo Steiner, secretário
geral da CNBB, está em Santarém para acompanhar o 10º Encontro dos Bispos da
Amazônia, que acontece até esta sexta-feira, dia 06 de julho.
Em sua saudação aos participantes
do encontro, destacou que é sempre bom, numa conferência tão grande poder olhar
e dizer que os leigos, os padres e os bispos da Amazônia ajudam a dar
testemunho vivo do Evangelho, sendo presença pobre, simples, generosa e gratuita
de Deus no meio dos povos desta região. São pessoas que vieram anunciar a boa
nova com amor e dar testemunho de vida.
Dom Leonardo destacou que as experiências
missionárias realizadas na Amazônia precisam ser levadas adiante e multiplicadas,
para que no futuro mais pessoas estejam disponíveis a realizar o trabalho na
região. “O nosso espírito missionário na igreja no Brasil ainda precisa crescer
muito. Ela está caminhando, eu creio que o documento de Aparecida, e o
testemunho, e as experiências têm ajudado, mas ainda é preciso dar muitos
passos”, destacou.
Lembrou ainda que “a igreja da
Amazônia precisa de muita gente. Homens e mulheres, que realmente estejam
dispostos a dar à vida pelos irmãos. E para isso é preciso muitas vezes de um
despojamento. Nós sabemos que é preciso uma liberdade evangélica de vir e
servir”.
Ao finalizar sua saudação enfatizou:
“ a gente não dar testemunho porque
quer. A gente testemunha porque nos foi dada a graça de testemunhar”. E
agradeceu a oportunidade de estar participando de um encontro tão importante
para Igreja na Amazônia, de onde sairão propostas para um trabalho cada vez
mais profético.
Joelma Viana e Ercio Santos
“Nada mais me faz desistir dessa luta”.
A violência sexual contra crianças
e adolescentes e o tráfico de mulheres são crescentes nos Estados do Pará e
Amapá, e para denunciar os casos e cobrar punição aos envolvidos nesses crimes,
a Comissão de Justiça e Paz (CJP) do Regional Norte 2 da CNBB tem realizado um
grande esforço.
Irmã Henriqueta Cavalcante,
coordenadora da CJP do Regional norte 2, tem realizado um trabalho incansável
de denúncia desses crimes. Ela é uma das religiosas que participa do 10º
Encontro da Igreja da Amazônia em Santarém, e que entendeu perfeitamente o eixo
central do documento que é encarnar na realidade da Amazônia.
A religiosa acredita que hoje só é possível
encarnar na realidade quem realmente assume o projeto de Deus, que é defender a
vida das pessoas.
“Esse tem sido o nosso esforço
dentro da Comissão de Justiça e Paz. E eu, como mulher consagrada, vivo
integramente, 24 por dia em prol da defesa da vida, principalmente daqueles e daquelas, que nos procuram e clamam
por justiça, já que nós também vivemos num Estado marcado pela cultura da
impunidade, onde a justiça só acontece para uma minoria”, finalizou.
Na visão de Irmã Henriqueta, os
casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes estão mais em
evidência nos últimos tempos, porque aumentou a capacidade das pessoas romperem
o silêncio. E para fortalecer ainda mais a capacidade dos amazônidas, a Comissão
de Justiça e Paz tem investido na prevenção, orientando às famílias, às
crianças da catequese, os professores das escolas públicas, para que debatam e
mostrem os canais de denúncia.
Por conta de seu trabalho, irmã Henriqueta
Cavalcante está ameaçada. Mas quem pensa que esse foi um motivo para sua desistência,
se engana. Ela afirma que tem muita clareza da opção que fez.
Em tom de Coragem e firmeza, a
religiosa afirma: “Eu fiz uma opção pela vida religiosa, eu fiz opção de
colocar a minha vida toda à serviço do reino de Deus, e hoje nada mais me faz
desistir dessa luta, nada mais. Outra coisa que eu digo: se for pra morrer eu
vou morrer muito tranquila porque eu tenho certeza que eu vou morrer falando,
eu nunca vou morrer de boca calada,
nunca. Diante de quem quer que seja violador de direitos humanos, eu não vou me
calar. Eu vou continuar denunciando e exigindo justiça, seja pra quem for”, enfatiza.
Irmã Henriqueta ressalta que esses
crimes, para serem de fato combatidos é preciso que sejam eliminadas as causas,
que estão nas desigualdades sociais, na inexistência de politicas públicas e de
promoção da vida e da dignidade, e o Estado e a sociedade civil têm papel fundamental
na promoção dos direitos humanos.
Joelma Viana e Ercio Santos
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